9
e 10 de Janeiro
O tempo não era muito, havia que
ser eficazes, não tínhamos outra solução. Portanto, seguindo as plaquinhas
amarelas, escutando os anúncios sonoros iguais em todo o lado e cumprindo com
todas as normas de tempo e segurança da “era moderna”, lá fomos nós de avião
até ao nosso destino. Com direito a escala de umas horas em Santiago do Chile,
só para confundir um bocadinho mais a alma, que já começara a viajar para o sul
antes deste desvio para oeste.
Quem chega a estas terras não
chega por acaso. E é um mistério interessante, um jogo mental engraçado, tentar
pensar o que leva cada uma das pessoas com que nos cruzamos a ter decidido
viver por estas latitudes.
Nós não tínhamos intenções de
ficar por cá a viver, mas tal como os que cá vivem, também não chegámos por
acaso. Chegámos despertos pelas histórias, pelos relatos e comentários dos que
em algum momento chegaram a este cantinho esquecido. Chegámos curiosos por conhecer
as pessoas, por ver as paisagens e percebemos mais tarde...chegámos curiosos de
sentir este lugar.
Punta Arenas foi o ponto de
chegada e por sua vez, o ponto de partida para os 300km de estrada até ao
Parque Nacional Torres del Paine. Depois obviamente de uma noite bem dormida
num pequeno hostel e de uma paragem estratégica para abastecer de mantimentos
para os próximos dias.
A distância que em Portugal
levaria 2h30 a fazer, suponho que nos tenha levado por volta de 4h, mas na
verdade nem tenho muito bem a certeza, ninguém estava agarrado ao relógio para
me poder responder. Fomos ao ritmo que escolhemos para a viagem. Fomos ao ritmo
que o caminho nos levava.
A estrada de Punta Arenas a
Puerto Natales é de alcatrão e serviu para nos começarmos a aperceber quão inóspita é toda esta zona. Kilometros de
nada, de suaves curvas, de subidas e descidas ligeiras, de paragens de autocarro demonstrativas do clima da zona, árvores curvadas pelo vento umas ao
lado das outras, todas elas “deitadas” para o mesmo lado.
Passámos por Puerto Natales mas
não parámos (em princípio ficaríamos por lá um dia ou dois ao voltar do
parque), seguimos directos para armar acampamento e poder no dia seguinte
acordar já dentro do parque. Mas para que isso acontecesse ainda tínhamos de
fazer os últimos 90km de terra batida, entrar no parque, armar tendas e jantar,
para finalmente poder testar os sacos cama.
Já seguindo terra batida fora,
com a linda paisagem da costa recortada de Puerto Natales atrás de nós, fomos
aproximando-nos de mansinho até que...ao longe, se começaram a deixar ver os
Cuernos del Paine. Inconfundíveis, mesmo à distância e sendo vistos ao vivo
pela primeira vez.
Por fim, depois de várias
exclamações, depois de receber mapas e recomendações, depois de várias fotos e
olhares...era verdade!
Fomos até ao primeiro parque de
campismo onde queríamos ficar e lá nos instalámos, perplexos pela qualidade do
parque. Balneários impecáveis, zonas de acampamento marcadas, separadas umas das
outras naturalmente por árvores ou outros elementos, cada zona de acampamento
com uma estrutura estilo “paragem de autocarro” fechada de 2 ou 3 lados, para proteger da chuva e do vento e uma mesa de madeira com bancos corridos de cada
lado. Basicamente, estávamos num parque de campismo numa zona tão remota como
esta mas que estava melhor equipado e mais bem cuidado que a grande maioria dos
parques que já visitei.
Tendas montadas, bem agasalhados,
com uma sopinha quentinha nas mãos e o resto de frango assado do almoço a pedir
para ser comido, lá nos sentámos à mesa a conversar com a desculpa de ter que
decidir que rumo seguir no dia seguinte.
Saludos y besos
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