Por algum motivo que não sei explicar, parece-me que deixei um pouco
de lado uma das coisas que mais prazer me deu nestes dias. O
entardecer tranquilo e relaxado que tínhamos junto às tendas.
Por vezes esquecemo-nos como as coisas mais simples são aquelas que
têm mais valor. Não são precisos ecrâs 3D de 50 pulgadas, carros
do último modelo, aqueles ténis que custam o que gastamos em comida
num mês inteiro. Cada vez mais me convenço do mesmo, é como dizia
o outro, só precisamos mesmo é de “amor e uma cabana!”.
Que podia ter mais valor para nós que um fim de dia sentados numa
mesa de madeira, céu alaranjado, cházinho (ou mate) na mão, todos
juntos, a jogar às cartas, a conversar a ler ou a tomar notas do que
tinhamos vivido nesse dia? Que podiamos valorizar mais que essas
horas entre chegar às tendas e ir dormir?
Todos
sabem que gosto de
cozinhar, gosto de ter a “minha” cozinha onde ninguém me chateia
nem me pregunta o que podem fazer. O que talvez nem todos saibam é
que uma das cozinhas que mais gosto é uma “especial one”, que
posso levar comigo! Um
conjunto de panelas de campismo que lá dentro têm um pouco de tudo.
Um bocadinho de cada segredo que vou aprendendo ao cozinhar em
viagem. Ou seja, essa cozinha tem la dentro um pouco de cada viagem
que já fiz e de cada pessoa com quem me cruzei.
Não o digo para ser poético, digo-o porque é a mais pura das
verdades. O que levava comigo quando comecei a viajar e a cozinhar já
pouco tem em comum com o que levo hoje em dia. Tenho aprendido
essêncialmente de duas maneiras: através de coisas que me foram
saindo bem ou mal e através de contacto com todos os “cozinheiros
viajantes” com que me cruzei (ou seja, copiar os bons exemplos!).
Aprendi que enlatados pesam demasiado quando é preciso carregalos às
costas; aprendi que um saquinho de soja não pesa nem ocupa espaço e
faz comida para um batalhão; aprendi que uma boa base de especiarias
e caldos (Knnor ou outros do estilo) fazem com que a mesma massa ou
arroz pareçam pratos diferentes; aprendi que uma caneca de sopa
instantanea ou simplesmente um chá, fazem com que todos fiquem mais
descansados, aconchegados e quentinhos enquanto esperam pelo jantar.
Estas são um pequeno exemplo das mil e uma coisas que tenho
aprendido ao cozinhar numa “cozinha portátil” ou em cozinhas de
hostels, albergues e refúgios.
Gosto especialemente do desafio de a partir de poucos ingredientes e
da minha “cozinha mágica” ter que preparar algo fácil mas ao
mesmo tempo que quem o coma diga “Uau! De onde é que isto saiu?!”.
Ainda me falta aprender muito para chegar a ser suplente para o “Na
roça com os tachos” mas concordo perfeitamente com a frase que o
grande chefe João Carlos Silva tanto dizia nesse programa: “Há
que fazer o amor com a comida!”.
Bem, já sei que me desviei um bocado da conversa principal mas foi
por uma boa causa!
Ora, onde é que eu ia...os finais de dia no parque de campismo.
Depois de momentos tão tranquilos de convívio e partilha, unidos
por um caminho ou momento em comum, pouco importa se temos que jantar
de casaco e de gorro, que o processo de cozinhar leve 3 ou 4 vezes
mais tempo que o “normal”, que estejamos sentados num banco de
madeira ou que tenhamos que fazer turnos para comer a sopa porque não
há copos suficientes. Em boa companhia, com vontade, com alguns
“posinhos mágicos” e muito amor, o que se pode cozinhar nestes
momentos supera qualquer restaurante ou banquete.
Saludos y Besos
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